Trabalho realizado para a disciplina de Pintura 1, do curso de Artes Plásticas na UnB, com Nelson Maravalhas.
_________________________________________________
1. Introdução
Leonora Carrington é uma artista que admiro e tenho muito apreço, suas obras falam do místico, de magia, lendas e mitologias, ela trata do mundo da imaginação com o devido respeito de quem acredita que por ser imaginado não é menos real.
Embora não seja uma artista amplamente conhecida, alcançou reconhecimento de artistas contemporâneos. Apesar das dificuldades durante a vida, nada a deteve de levar adiante seu trabalho.
A vida no México permitiu que ela, após a fuga do autoritarismo de seu pai, e da Segunda Guerra Mundial, pudesse construir uma nova vida, segundo sua própria vontade. A cultura local alimenta sua imaginação para novas criações.
Numa entrevista concedida em janeiro de 2007, Joanna Moorhead conhece a “prima desaparecida” de seu pai, Leonora. Nesta entrevista Joanna pergunta como a pintura surge, qual seria o impulso inicial, e Leonora com um olhar corretivo responde “Não se decide pintar. É como sentir fome e ir até a cozinha para comer. Pintar é uma necessidade, não uma escolha.”
Hoje Leonora, aos 92 anos, morando num subúrbio mexicano, ainda casada com Chiki Weisz, divide sua vida entre as tarefas diárias de uma senhora e as preocupações da vida artística. E lamenta o fato de ter tido que vender a maioria de suas pinturas.
2. Biografia
Leonora Carrington nasceu em Chorley, Lancashire, ao norte da Inglaterra, em 6 de abril de 1917, numa família burguesa.
Seu pai, Harold Carrington, descendente irlandês, era um protestante workaholic, magnata da indústria têxtil, enquanto que sua mãe, Maurie Moorhead, era uma católica irlandesa tranqüila e de mente aberta. Leonora viveu a infância criada por babás e tutores nas diversas mansões pelas quais passaram a família Carrington. Uma de suas babás, a irlandesa Mary Cavanaugh, contava a Leonora todo tipo de histórias, boa parte na língua gaélica. Além disso, Leonora também fazia visitas à sua querida avó na Irlanda, onde descobriu suas raízes celtas.
Aos nove anos de idade foi mandada a escolas de freira, mas não permanecia por muito tempo em nenhuma delas, não compreendia e não se conformava às regras severas impostas pelas freiras. Mas logo Leonora se rebelou para se tornar uma artista autônoma.
Seu primeiro contato com pintura foi durante a infância, através dos pincéis e tintas da mãe, que a incentivava na carreira artística, apesar da forte oposição do pai. Leonora convenceu sua mãe a mandá-la para a Itália para aprender arte. Estudou, em Florença, na Mrs. Penrose’s Academy of Art (Academia de Arte da Srª Penrose), uma escola de arte para jovens inglesas. Depois se mudou para Londres para estudar na Chelsea School of Arts (Escola de Artes de Chelsea) e também participou da Academia de Pintura de Ahédec Ovenfant.
Neste período, Leonora é presenteada por sua mãe, com um livro sobre o Surrealismo, de Herbert Reed, com a capa de Max Ernst, artista que se tornou um grande mestre e companheiro de Leonora. Em Paris, em seu primeiro grande encontro com Max, conhece um grupo de artistas surrealistas – Breton, Tanguy, Peret, Belmer, Arp, entre outros – que compreendem o que Leonora faz e o conteúdo de suas pinturas, o mistério, a magia, o místico, e a busca pelo triunfo da imaginação.
Porém, este período durou pouco, logo os nazistas alemães ameaçaram a França e os Aliados. Leonora e muitos outros surrealistas se uniram à Associação dos Artistas (Association of Artists), organização de intelectuais para ajudar judeus e artistas que se opunham a Hitler a sair da Europa. O governo francês prende todos os alemães nacionalizados franceses, e Max Ernst é um deles. Leonora sofre um colapso nervoso, e é alertada para que fugisse para se proteger dos nazistas. Abandonou, com todas as obras, a casa que dividia com Max Ernst, e libertou sua águia de estimação. Foi para a Espanha, onde teve outro colapso nervoso. Leonora foi internada num hospital psiquiátrico em Madrid, mas seu pai enviou um emissário para levá-la para a África do Sul e interná-la num sanatório, mas foi capaz de driblar o emissário e pegar um táxi para a embaixada do México a fim de pedir asilo. Suas terríveis experiências de fuga da França, mais a internação no hospital psiquiátrico, renderam-lhe os livros Down Below e The Stone Door.
Leonora conseguiu o asilo na embaixada mexicana com a ajuda do embaixador e também do diplomata, amigo de Picasso, Renato Leduc, com quem se casou para conseguir escapar da Europa para a América em 1941, pouco tempo antes de ser declarado o fim da guerra.
Em Nova Iorque (New York – EUA), Leonora pôde reunir-se aos surrealistas e conheceu Marcel Duchamp. Logo Renato e Leonora dissolveram seu casamento de conveniência, e Leonora viajou para o México, em 1942. No México reencontrou Breton, Peret, Alice Rahon e Wolfgang Paalen, e conheceu Remedios Varo, artista de quem se tornou muito amiga. Foi através de Remedios que Leonora conheceu o fotógrafo húngaro Csizi (“Chiqui”) Weisz, com quem se casou e teve dois filhos, um deles, Gabriel, se tornou escritor e leciona na Universidade do México, o outro, Pablo Weisz, seguiu carreira médica, mas também é pintor.
O México cativou Leonora por sua rica mitologia e suas muitas lendas. Lá produziu muito, pinturas, esculturas e livros, se tornou uma das artistas mais queridas do México. É conhecida pelo mundo como um dos pilares do surrealismo. Salvador Dali a tinha como a maior artista do sexo feminino.
Leonora presenteia o México com suas obras com certa frequência. Por exemplo, o mural El Mundo Magico de los Mayas do Museu Nacional de Antropologia e História, e a série de estátuas em Paseo de La Reforma, ambos no México.
Atualmente Leonora Carrington, a única surrealista ainda viva e saudável, cuida de seu marido Chiqui Weisz, tenta cumprir todas as encomendas de esculturas que recebe constantemente, e se pergunta se ainda voltará a pintar, pois como ela mesma afirma em uma entrevista concedida a Joanna Moorhead (que resulta em matéria publicada no site guardian.co.uk, em 2007), “Pintar é uma necessidade, não uma escolha”.
3. Referências
Em sua estadia na Itália, Leonora foi muito influenciada pelos mestres italianos, cujos dourados, vermelhos e cores terrosas se tornaram uma inspiração para seus futuros trabalhos.
Max e Leonora em St. Martin d’Ardeche, 1939. Fotografado por Lee Miller
Mas foi através de Max Ernst que Leonora aprendeu muito a respeito de arte e literatura, Ernst e Leonora trabalharam e moraram juntos por um período aproximado de 2 anos (1938 a 1940), houve muita colaboração entre os dois, e naquele período desenvolveram muitos trabalhos, Leonora pintava Ernst e Max Ernst pintava Leonora.
Leonora Carrington: Portrait of Max Ernst, 1938-9
Em Portrait of Max Ernst, Leonora Carrington expõe sua visão de Max, e se põe na pintura como um cavalo congelado, atrás de Max Ernst, na paisagem.
Algumas fontes de pesquisa citam a possibilidade de Leonora Carrington se inspirar nas obras de Hieronymus Bosch, artista que se utiliza de um excesso de elementos na composição de suas pinturas, dificultando a compreensão geral da obra sem antes analisar as partes pormenores que compõem a pintura.
4. Técnicas Utilizadas
Algumas fontes de pesquisa mencionam trabalhos em diversas técnicas: desenho a nanquim, guache, aquarela, litogravuras, tapeçarias e colagens, entretanto não pude encontrar muitas amostras destes trabalhos nas pesquisas que realizei. Os trabalhos mais conhecidos e divulgados de Leonora Carrington são as esculturas e pinturas a óleo.
Pintura a óleo – É com a pintura a óleo que Leonora se sente mais à vontade para trabalhar. A maior parte de suas obras são produzidas através da pintura a óleo. Em suas pinturas a óleo, Leonora faz um planejamento meticuloso. A pintura é obviamente figurativa e em alguns momentos extremamente detalhada. Em muitas de suas composições a óleo, Leonora traz o excesso de elementos, causando um inundamento de detalhes de elementos muitas vezes incomuns, não familiares, como no caso do mural para o Museu Nacional de Antropologia e História, no México, intitulado El Mundo Mágico de los Mayas, bastante discutido no meio acadêmico. Alguns autores discorrem a respeito desta obra, como no livro de Andres Medina e Laurette Sejourne, em Mundo Mágico de los Mayas, e no texto de Maxwell Irving em Leonora Carrington’s El mundo mágico de los mayas and Alchemy (2009).
Self Portrait, 1936-7
El Mundo Mágico de los Mayas, 1963
Aquarela – Na aquarela, podemos observar que Leonora produz a composição a partir dos desenhos. Há espontaneidade na pintura, as cores não são usadas para colorir os desenhos, e não há preocupação com a orientação da água e as marcas que ela deixa, como vemos na pintura abaixo. Neste caso, no canto superior esquerdo, vemos que ocorreu acúmulo de água, e o pigmento espalhou, secando nas extremidades.
Sinister Work, 1973
Gravura e Litogravura – Leonora, em algumas ocasiões, aplica a técnica muito utilizada antigamente para ilustração, chamada color intaglio, que implica a impressão do desenho, e pintura à mão, através, por exemplo, da aquarela.
Crookhey Hall, 1987; 61 x 91,4cm
Caneta e Nanquim sobre papel – Não se encontra muitos desenhos como estes, obtidos pela Galeria Tate Modern, de Londres. O curador Matthew Gale, em entrevista, declarou a vergonha que sente por Tate Modern possuir apenas estes dois trabalhos de Leonora Carrington, e acrescenta, dizendo que a artista foi negligenciada. Estes trabalhos mostram desenhos que já tem uma tendência para a pintura, visto que são produzidos através de manchas, áreas distintas com maior ou menor densidade de hachuras.
I Am An Amateur of Velocipedes, 1941 (27x21cm)
e
DoYou Know My Aunt Eliza?, 1941 (27x21cm)
Colagem – Única colagem encontrada durante esta pesquisa, sem nenhum dado quanto ao nome da obra, dimensões e ano. Exposto ao ar livre na Cidade do México.
5. Obras
Leonora possui muitas obras tanto no campo da literatura quanto das artes. Na literatura, já publicou os seguintes livros:
- The House of Fear (Ilustrado por Max Ernst);
- The Oval Lady (Ilustrado por Pablo Weisz-Carrington);
- Down Below;
- The Seventh Horse;
- The Stone Door;
- The Hearing Trumpet (Ilustrado por Pablo Weisz-Carrington).
Além de peças de teatro:
- Une Chemise de Nuit de Flanelle;
- Penelope – para a qual a autora teve o prazer de desenhar e produzir o cenário;
- La Invencion del Mole.
Exposição de esculturas ao ar livre em Paseo de la Reforma, Cidade do México:
Para Leonora Carrington, a criação sempre esteve ligada à imaginação. Suas obras estão mergulhadas nas histórias de culturas antigas, como a mitologia celta, e a mitologia dos nativos da região do México.
Desde cedo Leonora demonstra interesse por alquimia, e por Carl G. Jung. Em suas obras procura mostrar todo este ambiente místico, instigar a curiosidade pelo mistério, pelo oculto. Utiliza de iconografias e simbolismos em abundância, através de seus trabalhos, Leonora parecia querer alcançar aquilo que Jung explicava como fenômeno da esquizofrenia, procurando a experiência de transferência entre o inconsciente e o resto do mundo externo, causando um embate entre o consciente e inconsciente.
Portrait of the Late Ms. Partridge, 1947
And then we saw the daugther of the Minotaur!, 1953
Chinese at a Fountain, 1967
Maxwell Irving autor de uma das publicações de análise da obra “El mundo mágico de los mayas”, estabelece uma relação entre pinturas de Leonora Carrington com pinturas de Hieronymus Bosch, devido grande parte delas apresentarem muitos elementos na composição, tornando quase impossível a compreensão geral da obra sem antes uma pormenorização de cada evento presente na pintura.
6. Algumas Exposições
Permanentes:
- Tate Modern, Galeria de Arte de Londres;
- Frei Norris Gallery, São Francisco, Califórnia;
- Instituto de Arte de Chicago, Illinois;
- Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque;
- Museu de Arte Fred Jones Jr., da Universidade de Oklahoma;
- Fundacion Próa, Buenos Aires, Argentina;
- Museu de Arte da Universidade de Princeton, New Jersey;
- Museu Nacional das Mulheres nas Artes, Washington, D.C.;
- Meadows Museum at Southern Methodist University, Dallas, Texas;
- Museu de Arte Contemporânea da Universidade do Sul da Flórida;
- Museu Virtual do Canadá; (http://www.virtualmuseum.ca).
7. Fonte de Pesquisa
http://www.carringtonleo.5u.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/Leonora_Carrington
http://www.guardian.co.uk/artanddesign/2007/jan/02/art
http://www.freynorris.com/media/Shotgun%20Review_%20Leonora%20Carrington_%20The%20Talismanic%20Lens.pdf
http://www.tate.org.uk/tateetc/issue7/morethansurreal.htm
http://www.flickr.com/photos/g_cravioto/2485699834/
http://www.artcyclopedia.com/artists/carrington_leonora.html
Leonora Carrington’s El mundo mágico de los mayas and Alchemy; Maxwell Irving, 2009.
Mundo magico de los mayas; Medina, Andres e Sejourne, Laurette; Publicação no México, Instituto Nacional de Antropologia e História; (Número de chamada na Biblioteca da UnB: 741.021.2 C318m)
(Adaptado)
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Hi,
Check out the trailer of my documentary titled “Artistas: the Maiden, Mother, and Crone,” which features Leonora!
Sue May
Director/Producer
http://www.mydogspotproductions.com
http://www.artistasmaidenmothercrone.com
That's amazing Sue!
If I could, I would contribute with your project.
I think it must be incredible to have a nice talk with Leonora Carrington, and that is some of the things I would like to do in life.
I'm an art student, and I love to paint. In painting class, I have done a seminary about Leonora Carrington. I fell in love with her, and it is my intention to study more about her and her references in art, literature, philosophy, and so on. The difficulty is finding all of those informations. We have a lot in literature about Picasso, Da Vinci, Miguelangelo, Van Gohg, etc. But there are some important artists that are neglected, and that is sad. If I had the money, I would go out for Leonora Carrington and get some nice interview that could also be very usefull for us, art students who love her work and who are eager to know about her development as an artist, her techniques, maybe some details about her painting process, what did she study that made some difference to her, and so on.
It's lovely of you to send me this message!
Thank you very much.
I would like, if you care, to keep in touch with you. I couldn't find out your e-mail adress, so I'll let mine here: elisaf.lovo@gmail.com
And please, forgive my english.
I hope you come around soon to read my message.
hoje falecimento desta maior artista surrealista Leonora Carrington tenho a felicidade de encontrar o trabalho de um brasiliense Nelson Maravalhas neste mundo virtual, me perdoe Nelson desconhecia a grandeza da publicação, como ex-estudante da UNB e de Brasília me orgulho muito. PARABÉNS E SUCESSO.INCRIVEL, GRAÇAS VIVA A INTERNET
Regbit,
O trabalho acima, sobre a artista Leonora Carrington, foi feito por mim, Vento, e não pelo artista e professor Nelson Maravalhas.
É mesmo muito triste termos perdido nossa última surrealista.
Olá!
Como citar teu trabalho em um artigo?
Poderia me passar as informações?
dss2@ecomp.poli.br
Obrigada!
Postar um comentário